lunes, 22 de junio de 2009

LIBROS SUDAMERICANOS SABADO 20-06-09




Macunaíma e a renovação da linguagem literária
• Publicado em 1928, numa tiragem de apenas oitocentos exemplares (Mário de Andrade não conseguira editor), Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, é uma das obras pilares da cultura brasileira. Numa narrativa fantástica e picaresca, ou, melhor dizendo, “malandra”, herdeira direta das Memórias de um Sargento de Milícias (1852) de Manuel Antônio de Almeida, Mário de Andrade reelabora literariamente temas de mitologia indígena e visões folclóricas da Amazônia e do resto do país, fundando uma nova linguagem literária, saborosamente brasileira. Macunaíma - bem como Memórias Sentimentais de João Miramar (1924) e Serafim Ponte Grande (1933), de Oswald de Andrade - foram obras revolucionárias na medida em que desafiaram o sistema cultural vigente, propondo, através de uma nova organização da linguagem literária, o lançamento de outras informações culturais, diferentes em tudo das posições mantidas por uma sociedade dominada até então pelo reacionarismo e o atraso cultural generalizado. Nacionalista crítico, sem xenofobia, Macunaíma é a obra que melhor concretiza as propostas do movimento da Antropofagia (1928), criado por Oswald de Andrade, que buscava uma relação de igualdade real da cultura brasileira com as demais. Não a rejeição pura e simples do que vem de fora, mas consumir aquilo que há de bom na arte estrangeira. Não evitá-la, mas, como um antropófago, comer o que mereça ser comido. O tom bem humorado e a inventividade narrativa e lingüística fazem de Macunaíma uma das obras modernistas brasileiras mais afinadas com a literatura de vanguarda no mundo, na sua época. Nesse romance encontram-se dadaísmo, futurismo, expressionismo e surrealismo aplicados a um vasto conhecimento das raízes da cultura brasileira. Mário Raul de Morais Andrade nasceu na rua Aurora, na cidade de São Paulo, em 9 de outubro de 1893. Seu pai, o dr. Carlos Augusto de Andrade, de origem humilde, conseguira uma situação financeira estável através do próprio esforço e muito trabalho. Sua mãe, dona Maria Luísa, com quem Mário morou até o fim da vida, descendia de bandeirantes, mas não era rica. Quando adolescente, era um estudante dispersivo, que tirava notas baixas e só se destacava em Português. Enquanto seus irmãos Carlos, mais velho e Renato, mais novo – pianista de talento, falecido ainda menino - eram elogiados, Mário era considerado a ovelha negra da família. De repente, começou a estudar. Estudava música até nove horas por dia, lia muito e logo começou a ganhar fama de erudito. A família passou a admitir o seu talento, mas achava esquisitas sua preferências literárias. Em 1917, morre seu pai. Mário conclui, neste mesmo ano, o curso de piano no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, publica seu livro de estréia Há uma Gota de Sangue em cada Poema e conhece Anita Malfatti e Oswald de Andrade. Metódico e estudioso, torna-se Catedrático de História da Música, no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, em 1922, e, para sobreviver, ainda dá muitas aulas particulares de piano e escreve artigos de crítica para diversas publicações. Participa, como um dos principais organizadores, da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, e publica, neste mesmo ano, Paulicéia Desvairada (poesia), em que radicaliza as experimentações de vanguarda modernistas. Em 1927, publica Clã do Jabuti, em que trabalha poeticamente as tradições populares que pesquisava e o romance Amar, Verbo Intransitivo, em que critica a hipocrisia sexual da alta sociedade paulistana.

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